O menino



Era uma vez um menino que sonhava, que queria brincar de pique-esconde, pega-pega e bolhas de sabão. Seus primeiros anos de vida foram assustadores, rejeitado por alguns e adorado e esperado por outros, mas este menino tinha um anjo chamado Mãe, que o acompanhou em todos os momentos felizes e infelizes de sua vida. Até seus 5 anos de idade, este menino não tinha problemas, nem imagina o que era isso, porque ele tinha amor, tinha carinho, tinha sonhos e tinha uma família maravilhosa. Sua mãe precisava cuidar dele e trabalhar para garantir uma vida melhor a ele; o deixava trancado dentro de casa e ia para o seu trabalho. O menino sonhava, olhando da janela as crianças que brincavam na rua, jogavam bola e sorriam, como se tudo fosse perfeito. Foi então que sua mãe contratou uma babá para cuidar dele, mas ela pouca se importava com o menino. O menino havia ganhado uma irmãzinha a pouco tempo, quanta alegria ele sentiu em saber que não estaria mais sozinho, quanto amor ele tinha por aquela criança. Mas um dia o menino viu coisas que não deveria ter visto, sua mãe havia sido traída pela babá e eles partiram com as mãos vazias, deixando a sua casa, seus brinquedos, seus sonhos. O menino consegue lembrar nitidamente sua partida, seu desespero em querer entender o porquê eles estão indo embora sem seu pai, que ele descobriria um ano depois descobriu ser pai biológico de sua irmã e não dele. Quanta decepção este menino sentiu ao ver seu maior ídolo  ficando onde ele não podia estar, assim ele via seu pai que se tornaria eterno, mesmo sem ter seu sangue existia amor no coração. A vida deste menino começa a ficar complicada, a família parte para a casa da tia, mãe, filha pequena e o menino olhava sua casa e se sentia cada vez mais distante. A situação começou a ficar embaraçada, os mantimentos foram acabando, as contas vencendo e o desespero de sua mãe era notável, aí o menino começou a aprender que o trabalho é algo muito importante e que o dinheiro é essencial na vida do ser humano. Para ajudar, sua irmã fica gravemente doente, não existia outra solução senão deixá-la com a avó que podia cuidar melhor da menina e lá estava mais uma vez o menino sozinho. Sua mãe lutando para ganhar a vida de forma digna e o menino sozinho em suas festas de escola, em sua casa deserta, sem que houvesse algo que ele pudesse fazer. Sua vida foi assim durante toda sua infância, o menino percebeu que precisava ajudar de alguma forma, nem que fosse lavando um copo e assim fez, mas ele sempre esteve sozinho, olhando a “felicidade dos outros da janela”. Quando começou a se tornar adolescente, mais uma surpresa: outro irmão, que lhe causou revolta, ele não se conformava com a atitude da mãe, por saber o que eles viviam em casa, sua mãe já estava com outro marido, depois de ter se envolvido com outras pessoas sem amor, mas por necessidade. O menino crescia rápido demais e sua dor aumentava. Nesta mesma época a pessoa que mais lhe dava suporte e era sua avó, que sempre disse a ele que lutasse e fosse alguém na vida, sempre falou que a mãe dele tinha muito valor, e ele via isso, mas sentia falta da presença e da atenção dela. Nessa fase, sua avó parte para o céu e o maior apoio do menino se vai, sua irmã volta para sua casa depois de alguns anos com sua avó, as coisas começam a ficar complicadas ainda mais, pois seu padrasto adoece e assim permanece por três longos meses: sua mãe grávida, a família em desespero, eram raros os momentos com sorriso. Contudo, sua mãe enfrentou forte toda a situação, trabalhou na roça, carpia aos fins de semana e sua barriga cada vez maior, seu marido paralisado, seu filho revoltado com a vida e ela com a perda da mãe. Quanta dor para uma só pessoa. Ela dá à luz a um menino lindo e com carinha de anjo, o filho que julgou e disse que não queria aquele irmão se arrependeu no instante em olhou aquela criança que lhe sorria. E passou, então, a cuidar dela como se fosse sua, acordando na noite, fazendo realmente o papel da mãe, quando a mãe não podia fazer isso por fazer o papel de pai, afinal ela tinha um marido que não possuía filhos com ela até então: ele já cuidava de dois sangues que não passavam pelo dele. Crescendo mais um pouco o menino foi lutando contra tudo o que pensava e começou a acreditar muito em Deus, trabalhou, vendeu  sorvete,  vendeu legumes na rua, e estuda feito um doido para honrar o que sua avó havia dito. Mas sempre sozinho, ninguém tinha tempo para amar, todos estavam muito ocupados buscando o que comer dentro de casa. Sua irmã vai morar com o Pai e lá se vê jogada, esquecida pela madrasta e o menino sofrendo em sua casa, com sua vida e sua família. Aos 15 anos ele vai trabalhar na feira, onde permanece até os 19 e nunca parou de estudar, sempre preocupado com sua família, porém o menino sempre foi sozinho e tem medo de falar o que sente porque ninguém nunca pôde ouvi-lo. Sua vida começa a mudar com o pouco dinheiro que ganha, divide com mãe o dinheiro para pagar seus cursos e investir em seus estudos. A coragem do menino é assustadora, ao fim dos 19 ele entra para faculdade sem emprego fixo, apenas com os trabalhos informais, ele busca uma meta que é empregar-se e sai de sua casa todos os dias entregando currículo, até que, quando parece o fim, Deus abre uma porta e ele agarra com força. Ele ganha um novo irmão, mas desta vez veio querido por todos, mesmo com medo do que poderia vir o menino amava aquela criança, embora sua situação de vida estivesse parecida com a do começo. O menino que não foi menino e sim um adulto durante todo tempo, cansa e começa a viver todas as emoções que ele deveria ter vivido em sua adolescência e o menino que agora sim era um menino cai várias vezes, sobe e desce, chora e se desespera. Até chegar o dia em que ele conhece o amor verdadeiro, que invade sua alma, uma enchente que chega depressa. Seus olhos brilhavam, seu coração palpitava mais do que ele podia... e assim permanece até hoje. Nesse novo caminho do amor, o menino percebeu que muito do que ele viveu antes relacionado a esse aspecto não foi nada comparado ao amor que ele sente e que tudo que ele sabia, ele sabia errado. Então, tenta aprender o certo, cheio de pancadas e marcas, longas marcas que ele não consegue esquecer, ele bate no peito e diz eu amo e estou aprendendo o que é isso. Porque para ele o amor se constrói uma única vez e tudo que envolve esse sentimento ou causa amor ou causa dor. Mas, o menino acredita no amor, apesar de tê-lo provado tão pouco em sua vida, seja por amor de mãe, de pai, de amigos; o menino sonha com o amor que ele encontrou e que nunca ninguém vai conseguir tirar dele, porque ele já provou do amargo e está aprendendo a saborear o doce. A vida ainda guarda muitos obstáculos para este menino, que agora volta a crescer de novo, obstáculos de amor, obstáculos de trabalho, obstáculos familiares, mas ele sabe que não pode deixar de ser feliz e que vai lutar por isso. Seu maior problema é que ele ama muito a todos que se aproximam dele e é aí que ele acaba se perdendo. Esta história não acaba aqui.


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