REAVALIAÇÃO
Eu fui além do que imaginei. De verdade, eu fui longe
demais. Eu nasci e cresci numa cidade do interior paulista, alí construí sonhos
e realizei alguns deles. Mas, mesmo assim, eram sonhos tímidos, sem ambições,
embora acredite que os de hoje ainda são assim.
Sempre ouvi dizer que aquele lugar era pequeno para mim, que
deveria embarcar por outros mares. Hoje não consigo mais me lembrar de quando
eu saí de lá, das sensações e dos medos que tive. Apesar das dicas, remei ao
contrário, saí do interior para outro, agora, no Mato Grosso do Sul.
O mais incrível de tudo é que eu não senti a falta que
pensei que sentiria da vida que tinha. Eu senti falta da família, dos amigos,
do bom emprego. Contudo, aqui eu não tinha nenhum deles e ainda assim, me senti
feliz. Durante os longos quatro anos em que fiz morada em Dourados, tive apenas
duas crises, uma delas no início. Após algumas semanas desabei em lágrimas, uma
mistura de alegria e tristeza estava comigo. Felicidade de realizar um sonho,
tristeza pelo preço que ele custou.
Em 2015 fui surpreendido, um carro descuidado me colocou no
chão. Barrou minha vida corrida, me fez repensar, porém não me desesperou.
Superei logo, com dificuldades é claro.
A outra crise é essa, de agora, enquanto escrevo. Desde janeiro que levo comigo uma
insegurança, talvez pelo encerramento do ciclo. Acabou a faculdade, sonho
realizado. Acabou o mestrado, que não foi planejado, veio de brinde, foi
presente dos céus para a sobrevivência. Saí correndo em Janeiro até aqui. Um
emprego novo me aguardava, fiz as malas na pressa de sempre e embarquei. Foi
parecido com 2014, quando decidi mudar de orbita. Mas dessa vez foi doloroso,
desta vez eu queria ficar, eu queria não ter que voltar. E não tem nada de
errado aqui. Estou em uma das melhores fases, bem empregado, com uma boa
companhia...
Só que agora acabou, é só eu e mais nada. Os amigos
graduados se foram, os mestres seguiram sua vida e parece que só eu é que
fiquei. Espero que seja só uma crise dos 30.
Tenho me sentido estranho, tomei remédios para ansiedade,
mas abortei. Estavam me fazendo mal, decidi praticar um esporte: me inscrevi na
academia (pelo menos para mover o corpo). Tenho ido muito a missa, já faz mais
de um ano que estou fiel a isso (o socorro espiritual veio com o acidente, me
faz relembrar a adolescência). Manipulei pílulas naturais, flor de maracujá
(agora fico mais calmo, não muito, mas ajuda) e valeriana (consigo dormir uma
noite toda, um sono tranquilo). Mesmo com tudo isso, tenho umas sensações de
gente ansiosa ou que tem problemas de diabetes (segundo o Google).
Eu mudei, eu mudei demais. Antigamente, eu tinha uma alegria
que não era minha. Era de todos. Agora eu tenho uma alegria que tem dia, hora e
local para estar presente. Parece que antes ela não fazia escolhas, não havia distinção
entre as pessoas, agora há.
Faz muito tempo que não escrevo nada. Esta é a segunda
publicação de 2018... Penso que eu esteja guardando sentimentos que deveriam
ser expelidos.. Eu mudei... só não sei se queria...
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