Entorpecido

Era um dia típico Paulista. Garoava fino, de quando a gente anda e nem sente que molha.
Ele a deriva sem saber ao certo se devia estar ali. Os olhos, ah, como eram brilhantes, grandes olhos castanhos brilhantes. Os meus seguiam cada movimento impulsionado pela incerteza daquela hora, ora presente, ora distante, ora hora.
Os braços e as pernas cruzadas para si em autodefesa sugeriam um: "Não se aproxime".
O sorriso marcava o desespero da alma ou seria a alegria do momento? Até que momento?
De tantos "eus" que poderia ver, consegui enxergar apenas um: o do menino que queria ser grande tendo consciência de ser tão pequeno, mas de uma tamanha força não prevista.
O cheiro era uma mistura de si, de mim e outras substâncias da qual não faço uso e mesmo assim sentia-me entorpecido de ti.
 Naquela noite eu também foi menino, preso ao encanto dos olhos, ao sorriso dos lábios, a beleza de um ser.
Quando meus dedos tocaram aquela pele houve uma surpresa espantosa que era esperada e não foi por mim.
Com a boca cheia de palavras, não pude ouvir mais nada, apenas toca-lo com meus lábios tão desnudos de mim, quando me vi estávamos alí: em comunhão de nós. Como diz a música de Caio Prado: "Desecaste o meu corpo pela boca, onde salta o coração".
-Você beija bem.
- Nós beijamos então, ninguém beija sozinho, beija?
- Não (sorrisos bobos, silêncios esticados, olhares mornos e corpos sedentos um do outro).
Deste dia em diante não tenho estado mais aqui, meu lugar é entre a espera ansiosa de uma noite com garoa fina.


Comentários

Postagens mais visitadas