EU TRAVEI


Travei um duelo comigo, me agredi, violei os meus mais nobres valores. 
Cacei em mim o abandono, agarrei com a ponta dos dedos, mas ele me engoliu. 
Dancei nas sombras da escuridão e beijei a solidão. 
Tranquei a porta da sensibilidade e atirei as chaves num vasto campo de espinhos. 
Deitei entre os espaços vazios do mundo e travei, travei as válvulas de escape. 
Travei de novo. Agora a trava de segurança foi rompida por um desejo absoluto de me revirar, de me agredir de amor, de me surrar de nobres valores.
De caçar em mim a alegria de estar vivo, de me agarrar pelas mãos e sentir-me seguro. 
Dancei a frequência do desejo e beijei você. 
Abri a porta para que você pudesse ficar e atirei chaves num vasto campo de carinhos. 
Deitei entre os espaços vazios do mundo e travei, travei as válvulas de escape, porque agora eu poderia ficar por vontade própria.


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