Sobre aprender

 Duas coisas me incomodaram essa semana e ficaram no meu coração: 

A primeira ocorreu durante uma palestra com um colega psicólogo, alguém havia perguntado: "A dificuldade dos filhos em se abrirem com os pais, por insegurança ou medo de retaliação, pode influenciar negativamente a vida criança?"

A resposta do psicólogo foi: " O que leva, muitas vezes, essa criança, esse adolescente, esse adulto a não falar as coisas para os pais é o excesso de críticas, porque o pai, ele entra num movimento onde eu preciso tanto educar e ajudar essa pessoa, esse filho, que eu vou sempre chamando a atenção, né. Ah você tirou 7, mas poderia tirar 9, as vezes não é uma crítica, mas pode ser.  Ah eu vou namorar fulano,  mas você não tem idade para isso. Então, quando entra num campo mais afetivo, a criança, o adolescente deixa de dizer. O que leva a isso é o excesso de apontamentos, de julgamentos..." 
Acho que eu nunca tinha visto esse ponto da história, mesmo sendo tão óbvio. É claro que ninguém vai se abrir com alguém que o critica o tempo todo. A gente precisa se sentir a vontade para falar de coisas íntimas. O psicólogo também alerta que devemos entender que pais são pais e não são amigos, porque também não contamos tudo para um amigo só. Penso que saber diferenciar isso também nos ajude aa compreender os pais, mas é preciso que os pais percebam seus filhos. 

A segunda situação aconteceu em uma escola pública enquanto lecionava para o 5º ano, em determinado momento estava falando sobre o "Fhater's day" quando me dei conta de que aquele conteúdo poderia ser muito sensível. Resolvi usar as cartas da manga e pedi para que os alunos pensassem em alguém a quem amassem muito e que os ajudava a ser uma pessoa melhor, alguém que os queria bem. Então, eles deveriam escrever em uma folha de papel sobre isso e depois  colocar a frase: "You are my favorite person". Passei olhando para as folhas e espiando os textos, pois eles não queriam mostrar, estavam envergonhados de expor tanto sentimento em um pedaço de papel. Todos os alunos escreveram para as mães. Pensei se isso era por causa da situação social deles ou da ausência da presença paterna, mas não disse nada. Um dos textos me chamou a atenção, o menino não sabia escrever corretamente, a maioria não sabia, sua escrita continha grandes erros de grafia e antes desse momento os colegas riram dele. Havia pedido para que alguém fizesse a leitura do conteúdo e ele foi o primeiro a se prontificar, deixei que lesse, cheio de dificuldades ele conseguiu ler, reprimi os colegas para que não rissem da dificuldade deles. Bom, o fato é que ele escrevia para mãe e agradecia por ela cuidar dele e dos irmãos e por ela fazer comida para eles. Senti como se o ar me faltasse, porque veio em mim tamanhas memórias afetivas semelhantes, diante das dificuldades que também vivenciei na vida e, certamente, teria escrito para minha mãe também. 

Ambas situações ocorreram no mesmo dia. E eu aprendi muito. Entendi que é essencial que a família esteja perto da criança, que o apoio familiar é a base para o sucesso de qualquer pessoa, que o conceito de família é variável e que certos gatilhos são despertados em nós todos os dias. Que o medo dois pais, pela autoridade que eles impõem, nos leva sim a tomar decisões na vida que nem nós mesmos podemos imaginar. Que apesar de tudo, o amor é o caminho, tanto para os filhos quanto para os alunos, que percebê-los é a única forma de aprendizagem, seja para a vida ou para a escola. 


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