O professor do século

 Muita coisa mudou dos anos 90 até aqui. Eu lembro dos meus professores com tanto carinho e afinco e sou imensamente grato por tudo que me propiciaram. Eu não seria quem eu sou se não tivesse passado por as escolas que passei. Obrigado Escola Caic, Obrigado Escola Estadual Profº Henrique Ferreira dos Reis, Obrigado Escola Municipal Profª Maria José de oliveira Jacobsen, Obrigado Escola Municipal Profª Júlia Colombo de Almeida, OBRIGADO Escola Estadual Dr. Manuel Jacinto Vieira de Moraes e Obrigado Instituto de Educação Pirassununga. E a todos que estiveram comigo nesse caminho, me ensinando e me moldando. Nesse tempo, dos anos 90 aos anos 2006, que foi quando estive na educação básica, meus professores sempre foram incríveis. Sempre percebi neles a vontade de ensinar e o desejo para que almejássemos um futuro brilhante. Era um tempo em que o professor era respeitado, amado e acolhido. O professor sempre tinha a razão. 

Quando eu pisei pela primeira vez em uma sala de aula como professor, foi sendo confundido com um aluno, foi tendo que ganhar a confiança dos que estavam ali na sala, muito mais velhos do que eu. E eu com aquela carinha de menino, formado aos 22 anos, superando todas as adversidades que conhecia para chegar até alí. No meu tempo de início de carreira, já encontrávamos resistência de alguns alunos quanto ao respeito, mas os pais sempre estavam do nosso lado e nos defendiam repreendendo os filhos. Os tempos mudaram, o professor perdeu seu prestígio e ser professor se tornou sinal de lamento. Lembro até hoje quando minha mãe me disse que uma prima dela havia desdenhado quando soube que eu faria faculdade para ser professor. O maior marco da minha família não era bem visto por todos. Maior, porque eu fui o primeiro a ter uma formação, entre meus muitos primos. 

Quando encontrei uma ex- professora pela primeira vez ela me reprimiu e disse que havia me dito para estudar direito. Lembro de me chocar com os discursos dos professores mais velhos falando sobre a carreira e o excesso de trabalho, o baixo salário e o desrespeito por parte da sociedade. Mal sabiam eles o que aguardava a educação. Há cerca de 6 anos atrás os professores foram acusados de serem doutrinadores; pais queriam escola sem partido, alunos ensinados em casa. Mas, o tempo mostrou que somos essenciais e importantes. A pandemia obrigou o professor a ser mais do que sempre foi, aquele que não sabia gravar um vídeo se via de frente a uma câmera improvisando recursos, como foi a vida toda. O professor sempre investiu em si, estudando, comprando o que a escola não tem, fazendo lembrancinhas para aluno que as escolas não podem  bancar, então é claro que daríamos conta dessa nova etapa. 

O professor, literalmente abriu a porta da sua casa e deixou que os alunos entrassem para aprender. E eu sei, professor, que assim como eu você se sentiu sozinho várias vezes, esperando uma voz, um acolhimento. O professor excedeu-se de trabalho  de um tanto que jamais imaginaríamos ser possível. Sem apoio do governo, sem recursos, sem aumento de salário, sem qualquer valorização, o professor enfrentou o problema e quis fazer aquilo que sabe: ENSINAR. E eu sei também, professor, que você teve que ouvir que não trabalha, que estava de férias, que era só isso de atividade. Eu entendo das horas que gastou planejando a aula, buscando as informações, estudando e se atualizando, montando o material, postando tarefas, fazendo a busca ativa dos alunos e ouvindo da comunidade que era um momento difícil e que precisámos entender as dores das famílias, dos alunos... Entendo que ficamos com muito material para correção, que levamos horas do dia respondendo mensagens, corrigindo atividades, lançando notas e tentando acolher a todos. 

E eu sei professor que você pensou: E quem pensa em nós? Eu, pensei assim também. Quem nos ajuda? Quem vê nossa dedicação? Quem nos acolhe? E eu te digo, meus amigos, vocês não estão sozinhos. O melhor lugar da escola é a sala dos professores, é ali que a gente ri, que a gente compartilha as atividades, que a gente fala sobre a escola, que a gente desabafa sobre a vida. O lugar mais valorizado da escola deveria ser a sala dos professores. O mundo está cada vez mais coorporativo, então, que usemos a lógica capitalista e pensemos que funcionário feliz produz mais. Precisamos de incentivos financeiros, precisamos de um espaço adequado para descanso, precisamos de apoio, precisamos ser ouvidos, mas mais do que isso, precisamos SER RECONHECIDOS. Um professor sem reconhecimento é um profissional morto. Entenda reconhecimento como algo metafórico, todos merecem ser reconhecidos, independente da profissão e nós sabemos disso muito bem, pois reconhecemos as famílias, os alunos, os colegas, a sociedade e o sistema de ensino. 

Para mudarmos o mundo é preciso que nos deem as mãos e nos deixem fazer o que sabemos, a educação é uma construção coletiva e todos precisam participar e saber reconhecer o professor como o orientador do conhecimento e o desenvolvedor de habilidades é também assegurar que você também aprendeu. 

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