O Menino que roubava Flores
- Menino, volte aqui,
quero falar com você. Insistiu a velha que seguira o menino. Ele com aquele
olhar suspeito, profundo e penetrante, parou. Sentou-se no meio da rua e começou
a chorar, ela, chegando mais perto do garoto, com sua voz rouca e volumosa
pergunta a ele porque ele chorava.
- Dona, eu choro pelas
rosas. As rosas que foram jogadas no rio. A velha sem entender nada pergunta: -
Que história é essa de rosas menino, explique-se. O menino que continuava a
chorar, olhou para o céu como se estivesse falando com Deus, enxugou os olhos
cheios de lágrimas, que fizeram uma marca de sujeira ficar evidente em seu
rosto, segurou firme a mão da velha.
-Senhora, sou um vendedor
de flores e todos os dias preciso vender 15 rosas para que eu chegue em casa e
possa comer. Minha família é muito humilde e eu preciso ajudar de alguma forma.
Apesar dos meus 15 anos mal vividos, eu sou esperto e consigo vendê-las sempre.
- Então qual motivo dessa
pressa e desse choro? Disse a velha.
- O motivo é bem maior
que isso, o motivo é que para conseguir as rosas eu preciso rouba-las de uma
pequena plantação que fica próximo a vila do Lampejo. Mas hoje, Senhora, quando fui rouba-las, algo aconteceu
comigo, algo que eu nunca senti.
A velha fixava seus olhos
no garoto, ele com as mãos cada vez apertadas a da velha. Ambos suspiram e seus
corações estão apressados, um arrepio é sentido pela velha quando o menino
conclui sua história.
- Quando fui pegar uma
das rosas, a de número 13, eu espetei meu dedo em um de seus espinhos, uma
pequena gota do meu sangue foi lentamente caindo até a terra que abrigava as
rosas e foi nesse momento que eu vi o que eu roubava, Senhora. Eu roubava não
apenas 15 rosas, eu roubava alguém todos os dias, eu roubava a mim, a minha
humildade, a minha integridade, a minha honestidade, roubava minha infância mal
vivida... meus carrinhos de tijolos, meus pedidos ao Papai Noel, minhas festas
de aniversário... minha mãe, minha família. Nesse momento eu senti como se meu
coração estivesse doente, então saí correndo em direção ao rio, olhei para
rosas, olhei para o céu, olhei para o rio e chorei...chorei com toda as minhas
forças como se um fardo pesado fosse lançado de um prédio e ao chorar eu joguei
as 13 rosas ao rio. Depois, eu pude lavar o meu sangue com a mesma água
corrente que levava as rosas. Aí Senhora, foi que eu percebi que não poderia
mais devolver as rosas que roubei, nem plantar as mesmas rosas, mas lembrei que
restavam ainda duas rosas que eu deixara para trás e é através delas que eu
planto minha vida e crio as minhas rosas.
A velha rabugenta chorou
ao ouvir as palavras do menino porque vira nele a esperança de sua vida. Vira
um erro tão banal aparentemente ser tão transformador, olhando para o menino em
tom de mansidão explicou:
- Menino, crie suas
rosas, regue-as com a água do mesmo rio, use da terra que foi regada com seu
sangue, floresça o seu jardim, mas não venda as rosas, cultive-as para que você
possa todos os dias olhar para a beleza de seu trabalho. E saiu caminhando em
direção contrária à do garoto, desaparecendo em uma esquina. O menino
levantou-se do chão, olhou para o sol que já estava se pondo, seus olhos podiam ver as fagulhas de luz do
sol, arrumou a barra de sua calça e
seguiu seu caminho rumo à uma nova vida.
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