O poder de encontrar consigo mesmo - No Processo da Arte


       De uma forma geral estamos levando uma vida frenética. Atrelados a uma porção de coisas e afazeres intermináveis, ficando a deriva de nós mesmos. Acordar as 6h da matina e deitar as 00h virou rotina incessante, assim como colecionar olheiras profundas e cansaço sem fim. Ontem na aula de Atuação III, a professora (Seu nome é Maria Regina, todos à chamam de Gina, mas deveria ser Divina por já ser) que trabalha com exercícios propostos por Stanislávski, pediu para que todos deitássemos no chão e começamos a fazer os exercícios de costume. Então ela abaixou a luz do ambiente e colocou uma música de fundo (outra versão masculina de Paciência, não a do Lenine), pediu para que passássemos a palma da mão sobre o nosso corpo, mas sem tocar na pele, apenas transferindo a energia; pude sentir como se cada parte do meu corpo estivesse realmente sendo tocada, mas por uma energia que me renovava. Depois pudemos colocar o tato, tocarmo-nos e em seguida deveríamos fazer pressão do nosso corpo sobre o chão, estabelecendo relação com cada parte dele. Cada vez eu ia tomando mais consciência de mim, de quem sou, o que eu quero, porque eu estou no mundo e tantas outras questões foram sendo despertadas. Foi aí, que com os olhos fechados, deveríamos estabelecer relação de interação com o colega através apenas de um ponto de ligação. O meu começou com o pé, o meu pé foi sendo tocado parte por parte por outro pé e vice-versa, aos poucos, os pontos iam aumentando e também o número de pessoas com que nos relacionávamos e em instantes éramos uma massa de pessoas dividindo toques com o corpo; tomávamos conto de quem somos, que valor temos- que com esse turbilhão de compromissos, informações, esquecemos de nos olhar. 
        Não foi algo vulgar, tão pouco desconfortável; foi poético, acolhedor, aconchegante. Reconhecer o outro através de como meu joelho interage como o do outro, descobrindo que podemos falar tudo sem dizer uma palavra. A este ponto, aos poucos uma música começa a ser entoada e uma batida de pés cria o ritmo, de olhos fechados estamos cantando e dançando, sentindo a energia uns dos outros. Somos um grupo. Temos o objetivo de estarem todos virados para o mesmo lado quando abrir os olhos, sem perder o ritmo da dança, sem deixar de cantar e sem perder a sintonia, a energia do grupo. Assim se fez, ao abrir os olhos estávamos todos – incrivelmente- virados para o mesmo lado, ritmados e interligados; foi lindo, surpreendente. Embalados pelo processo, pela emoção, pela ligação, pelo clímax que ainda viria, seguimos cantando e dançando, entregando o canto um ao outro que cada vez mais ia ganhando força, energia. Tive a sensação de me sentir completo, rejuvenescido, agradecido a Deus pela minha vida, meus amigos e minha família. Senti que estou no caminho certo. Aconteceu o Aqui- Agora tão usado pelos teóricos teatrais, estávamos lá, somente lá. 
      Conseguir chegar a esse estado de espírito, a essa experiência divina sozinho é humanamente impossível – mito ? Talvez sim, talvez não. Tivemos mais que uma aula de Atuação, podemos encontrar a nós mesmos uns dentro dos outros. E é esse teatro que eu quero fazer !

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