Sobre ser sozinho

 Talvez as próximas coisas que vá ler aqui possam te parecer pedantes... 

Não tenho conseguido traduzir meus sentimentos em palavras como fazia anteriormente. Não sei se estou me isolando cada vez mais, se a falta da arte do teatro me afeta de forma profunda bloqueando minha sensibilidade e com isso sou menos criativo, mas isso é um fato. 

Não tenho visto muito sentido em ter um apartamento arrumadinho, organizado se não tenho com quem compartilhar. E não é porque não quero. Tenho alguns  amigos, mas todos estão ocupando seus espaços na vida e eu não sinto que sei cultivar tão bem as minhas amizades. Não tenho criado profundezas. 

Engraçado, porque quando era jovem eu acreditava tanto no amor, no poder da amizade, acreditava que as coisas poderiam durar para sempre. A vida adulta tem me feito crer no indivisível, no indivíduo solo, independente sim, mas vazio, oco, oculto do seu eu. 

Não consigo mais encontrar significado para estar estar longe da minha família ao mesmo passo que não creio ter argumentos suficientes para estar tão perto novamente. Gostaria de um meio termo: nem longe que não possa vê-los quando a saudade apertar nem tão perto que tenha que me envolver com problemas que não podem ser de minha responsabilidade. Não sei se isso desperta em mim uma culpa retroativa de alguma coisa que eu não sei definir muito bem. 

Ah, esqueci de dizer que algumas coisas possam não fazer sentido para você e nem para mim. 

Acho que descobri o motivo de eu não querer estar/ficar sozinho. Eu tive uma vida inteira de solidão. Aprendi cedo a me virar sozinho por necessidade da vida. Fiquei independente muito cedo, aprendi as coisas muito cedo, comecei a sentir o peso do mundo cedo. E, embora tivesse minha família; mãe, irmãos, parentes, eu sempre estava sozinho na maior parte do tempo. 

Não que haja um culpado, mas eu tive um pai e o perdi no momento que eu mais precisa de um, pois foi a partir daquele momento que coletei memórias. Minha mãe não foi ausente em si, moramos juntos por 27 anos, mas ela não esteva comigo nos momentos que eu tive medo de ser quem eu sou,  nos momentos em que eu precisava de um abraço e me diziam que eu já estava grande demais. Porque foi assim que ensinaram a ela e e foi assim que me via: sozinho. 

Tenho buscado não estar sozinho, embora goste de ficar sozinho, não sei se conseguem me entender. Não é um sozinho de não ter ninguém, é um sozinho de ter meu espaço, mas saber que há alguém com quem contar, embora tenha isso com família e amigos, não é a mesma coisa. 

Eu quero dividir a vida. Eu acho que a busca incansável por  relacionamentos folgasses em minha vida foi uma procura por uma completude que a consciência desconhecia até então. No caminho eu me perdi de mim, mesmo com tantas conquistas, que para alguns possa parecer insignificantes, mas que para mim, dentro da minha realidade, são grandiosas. 

"É melhor ser alegre que ser triste",  diz a canção e eu concordo, só que por trás de uma alegria há sempre uma tristeza oculta que poucos conseguem  visualizar. Sou alegre, sou triste na minha alegria. 

Há mais cacos de mim do que eu possa contar para me sentir completo, não é que eu não me sinta, só sei que algo falta e cada tabefe que a vida me oferece e eu não recuso, porque aprendi a oferecer a outra face, me fazem sentir que para a completude deve haver um complemento afim de buscar um sentido nessa existência carnal. 

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